CASA DE PÁSSARO É ASSIM
domingo, 13 de dezembro de 2009
Estudo sobre IVOMEC
AQUI FICA UM ESTUDO SOBRE IVOMEC
Rodrigo Silva Miguel
É médico veterinário e Criador de aves ornamentais - CCCC - 293
l- Introdução
0 uso do Ivomec na criação de aves ornamentais começou como o de vários outros medicamentos, como antibióticos, antiinflamatórios, etc.: com adaptações de fármacos produzidos para mamíferos como cães, bovinos e até mesmo humanos, ou da avicultura de produção, onde considerando-se os pesos das aves, as doses são altíssimas.
A rigor esta atitude não é condenável pelo fato de que naquela época e até mesmo hoje haver uma carência de medicamentos específicos para passeriformes. Essa prática pode e até deve continuar por facilitar o tratamento de nossas aves, porém, se algumas observações básicas não forem feitas, isso pode levar ao fracasso, o melhor plantel do mundo.
A ivermectina (Ivomec está no mercado desde 1981 e até hoje é um dos antiparasitários de maior sucesso no tratamento de endoparasitas (nematóides), ectoparasitas (ácaros e piolhos sugadores). Isto se deve por sua ação particular no sistema nervoso (GABA) dos parasitas, o que dificulta o aparecimento de resistências. Por essa capacidade de ação no sistema nervoso, começou-se a estudar uma possível ação, do fármaco no sistema nervoso dos hospedeiros (aves, bovinos, cães, etc.). detectando-se alguns efeitos colaterais em algumas raças de cães e também em animais que receberam superdosagem. Esses efeitos colaterais variam de incordenação motora e tremores transitórios, perda de fertilidade por algum tempo em mamíferos até mortes em alguns casos.
Devido à carência de estudos a respeito do uso e efeitos colaterais de ivermectina em aves, decidimos desenvolver um trabalho específico, em conjunto com o departamento de Farmacologia, Toxicologia e Patologia da USP, patrocinado pelo CNPq. Este trabalho ainda está em andamento sob os estudos da Dra. Camila G. Pontes (formanda da USP), e a cada nova fase, mais subsídios são somados aos resultados demonstrados a seguir:
II - Objetivos
A intenção de se tratar a ação e os possíveis efeitos colaterais da ivermectina em aves teve como principais objetivos confirmar a eficácia da dose recomendada no tratamento de endo e ectoparasitas, determinar os efeitos na reprodução (número de ovos, ovos brancos, morte embrionária e viabilidade de filhotes), além de fixar o que seria uma superdosagem prejudicial às aves.
Foram usados 36 casais de manons (Munia demonstica) em gaiolas separadas onde observou-se por 2 ninhadas os parâmetros reprodutivos acima indicados. Os dados foram anotados e logo após essas duas ninhadas. os casais foram divididos em quatro grupos para a administração da droga.
Grupo 1 - Controle injetado apenas propilenoglicol* (diluente)
Grupo 2 - Machos tratados com Ivomec
Grupo 3 - Fêmeas tratadas com Ivomec
Grupo 4 - Casal tratado com Ivomec
A aplicação foi feita na dose de 0,01 ml por kg de peso vivo (dose recomendada na literatura) por via intramuscular peitoral. Para conseguir um volume significativo para a aplicação houve necessidade de diluição do Ivomec em propilenoglicol. Observou-se a reprodução e na análise das ninhadas houve um aumento na produtividade (número de ovos e de filhotes) explicado pela desparasitação das aves.
A partir desta constatação começamos a aumentar as doses na ordem de 10 vezes para cada ninhada onde começaram a aparecer alterações reprodutivas como queda do número de ovos e/ou queda de fertilidade (ovos brancos).
Hoje o experimento continua e já está em uma dose bastante elevada sem apresentar sinais clínicos de efeitos nas aves, a não ser diminuição da reprodução.
III - Conclusões
1 - Confirmou-se a eficácia do Ivomec no tratamento de endo e ectoparasitas das aves ornamentais.
2 - Confirmou-se a dose recomendada e a ausência de efeitos colaterais tanto nas aves quanto na sua reprodução nessas condições.
3 - Confirmou-se o efeito prejudicial se usado em dose errada ou de forma continua.
4 - Em dosagens muito elevadas pode provocar convulsões, tremores, cegueira e até morte.
5 - É o medicamento de maior eficácia para o tratamento de ácaro de traquéia e com os resultados rápidos
6 - Pela dificuldade de diluição a campo, foram feitas algumas adaptações como colocar uma gota de seringa de insulina na musculatura do peito, ou usar a formulação Pour-on (azul) pingando no bico ou na nuca da ave.
7 - Seguindo essas formas de administração, não se consegue atingir doses prejudiciais podendo ser usado com segurança tanto para a ave quanto para a sua reprodução.
8 - O único cuidado deve ser com a época e a freqüência de administração do Ivomec, que deve ser determinada pelo veterinário responsável pelo plantel de acordo com a espécie, época de reprodução e grau de parasitismo.
IV - Considerações Finais
Esses dados foram extraídos de trabalho científico realizado por nós dentro da faculdade de Medicina Veterinária da USP e confirmados na prática em nossa criação situada no município de Batatais, São Paulo, onde tratamos diferenciadamente 3000 matrizes de 28 espécies de aves.
OUTRO ESTUDO E DOSE A APLICAR
O presente artigo se propõe a apenas apresentar os resultados de quatro anos de uso de ivermectina na criação de canários, sem pretensões de se apresentar como trabalho científico, em vista das inúmeras dificuldades decorrentes de uma aproximação científica do problema. Em nenhum momento foi possível evidenciar a presença do ácaro, sendo o diagnóstico feito através dos sintomas e pelo fato de a afecção não reagir a tratamentos convencionais.
Em um plantel composto por 26 casais e uma produção média de 5 a 6 filhotes por casal ao ano, frequentemente ocorria a perda de uns poucos indivíduos anualmente, em função da infestação por Sternostoma tracheacolum, o ácaro da traquéia.
Além da morte de reprodutores, uma perda maior decorrente do problema, a nosso ver, era a representada pela baixa eficiência reprodutiva dos indivíduos infestados.
Vários métodos de tratamento foram sugeridos por outros criadores, porém nenhum se mostrou realmente eficaz, principalmente no que diz respeito a uma possível erradicação do agente.
Em meados de 1985, muitos criadores já experimentavam o IVOMEC ®(Merck, Sharp & Dohme), injetável para bovinos, administrado por pincelamento em região da qual se removiam previamente as penas. O método nos parecia muito empírico e de resultados duvidosos, visto não se ter controle sobre a quantidade de princípio activo aplicada, incorrendo inclusive em grave risco para a saúde do pássaro.
Em Dezembro de 1985, o professor Murray Fowler, ministrando o curso de Medicina Veterinária de Animais Silvestres e de Zoológico, na Universidade Federal do Paraná, mencionou a possibilidade de se empregar em aves, o IVOMEC para ovinos, preparado para ser administrado por via oral. Sugeriu a dose de 4 ml dessa solução por litro de água de bebida, durante três dias seguidos. A medicação deveria ser repetida mais duas vezes, com intervalos de 14 dias, a fim de erradicar o ácaro do plantel e das instalações. Este intervalo se justifica pelo fato de que formas de desenvolvimento ocorrem nos pássaros, ficando muitas nas instalações. As repetições da medicação visam então a atingir aqueles indivíduos que, nas primeiras aplicações, não estivessem instalados nos pássaros.
Este foi então o procedimento adoptado em nosso plantel. A princípio a droga foi aplicada a apenas um gaiolão, contendo 12 canários, para verificação de eventual toxidade. Observou-se leve diarreia, mostrando-se os pássaros ligeiramente deprimidos, com olhos semi-fechados. Esta se deve provavelmente ao veículo empregado na suspensão, o propilenoglicol. Este é necessário pelo fato de a ivermectina não ser solúvel em água.
Esta depressão desaparece porém logo que se suspende a medicação, não ficando qualquer sequela.
Com base nestes fatos, passamos a empregar o produto na forma recomendada acima, em todo o plantel. Escolhemos o período que precedia a época de reprodução, considerando que já não ocorreriam mais entradas de animais novos no plantel.
Observamos bons resultados, com a aparente erradicação do agente, visto que não foram mais observados quaisquer sintomas respiratórios, inclusive obtendo-se a cura completa de algumas aves bastante afectadas.
Desde então temos empregado este procedimento anualmente, após a estabilização do plantel e antes do período de reprodução.
Como era de se esperar, a droga actuou também sobre o piolho conhecido como «vermelhinho». No início, a erradicação foi completa. Actualmente, ocorre apenas uma redução na incidência, possivelmente pelo surgimento de resistência ao princípio activo. Mesmo assim, é um bom auxiliar no controle deste parasita, fora da época de postura. Utilizamos o produto durante essa estação, na tentativa de controlar um surto desse parasita. Observamos que aqueles ácaros instalados nos ninhos, que representam o maior problema nesta época, não foram atingidos. Isto se deve provavelmente ao fato de estes piolhos se alimentarem basicamente do sangue dos filhotes, os quais não devem receber quantidade suficiente do princípio activo.
A droga também não se aplica ao controle dos Malaphaga, os piolhos das penas, pois o princípio activo não chega até eles.
Em face de nossa experiência, este parece ser um dos únicos produtos realmente eficazes no controle do ácaro de traquéia, cujo uso se justifica mesmo em face de seu alto custo.
José Luciano Andriguetto - Curitiba-PR